Ultramaratonas são basicamente um grande teste de resistência física e psicológica, disso não há dúvidas. Se correr uma maratona já parece uma loucura para muita gente, imagina dobrar, triplicar ou até quadruplicar essa distância? Pois é, tem muita gente (além de mim) que acha isso divertido! Mas o que faz alguém se dar bem numa prova de 50km, 80km ou 160km?
Foi exatamente isso que um grupo de cientistas malucos (ou talvez só apaixonados por corrida) resolveu investigar. No estudo de Coates et al. (2020), os pesquisadores acompanharam corredores que enfrentaram essas distâncias em um percurso de 20km com um belo sobe e desce acumulando 620m de altimetria por volta. Eles analisaram de tudo: histórico de treino, capacidade aeróbica, economia de corrida, perda de peso durante a prova, alterações no sangue e até a saúde cardiovascular.
E o que eles descobriram?
Para 50km, os fatores clássicos de corrida ainda reinam: treinar bastante, ter um bom condicionamento aeróbico e até perder um pouco de peso ao longo da prova estava associado a melhores tempos. Basicamente, quanto mais rápido você conseguia correr em um teste de VO2máx, maiores as chances de mandar bem na prova.
Para 80km, só um fator se destacou: velocidade de pico no teste de VO2máx (lembrando que esses testes foram feitos em esteira). Ou seja, sua capacidade de correr rápido em laboratório ainda tem peso aqui, mas já não é tudo.
Para 160km, nada do que foi medido conseguiu prever quem ia voar e quem ia rastejar até a linha de chegada. Isso quer dizer que, nessa distância, o jogo muda completamente. Estratégia, cabeça forte e saber lidar com a fadiga parecem ser mais importantes do que qualquer número de laboratório.
O que isso significa na prática?
Se você tá pensando em encarar uma ultramaratona, a moral da história é simples:
Treine volume – O estudo mostrou que os que não terminaram a prova treinavam menos que os que conseguiram cruzar a linha de chegada. E isso faz todo o sentido! Não adianta querer correr 160km se sua quilometragem semanal mal chega a 50km.
Abrace a fadiga – Quanto maior a distância, mais sua resistência mental entra no jogo. Se seu corpo tá acostumado a sofrer (de um jeito controlado, claro!), maior a chance de você aguentar os perrengues da prova.
Se preocupe menos com números e mais com estratégia – Para 50km, seu VO2máx ainda pode te ajudar a prever seu desempenho. Mas a partir dos 80km, a história muda. Aí entra alimentação, hidratação, ritmo, cabeça fria e até como você lida com o sono.
Conclusão
Correr 50km já é um desafio bem grande de resistência, mas se você deseja perfrmance, precisa ser veloz. Já nos 160km é um curso intensivo de sobrevivência. Quanto maior a distância, menos os fatores fisiológicos clássicos importam e mais entra em jogo sua resiliência, experiência e estratégia.
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Referência: Coates, A. M., Berard, J. A., King, T. J., & Burr, J. F. (2020). Physiological determinants of ultramarathon trail running performance. SportRχiv.