A Jornada de Eliud Kipchoge e a Quebra da Barreira das 2 Horas
No dia 12 de outubro de 2019, em Viena, o mundo da corrida parou. A cada passo preciso, a cada metro conquistado, Eliud Kipchoge avançava na busca pelo impossível. Quando finalmente cruzou a linha de chegada em 1h59min40s, não era apenas um novo tempo registrado; era a redefinição dos limites humanos. Mas essa história começa muito antes desse dia.
Quem é Eliud Kipchoge?
Imagine um garoto de uma vila remota no Quênia, correndo quilômetros diariamente para ir à escola sem nem imaginar que um dia redefiniria os limites do esporte. Kipchoge nasceu em 5 de novembro de 1984, em Kapsisiywa. Foi descoberto ainda jovem por Patrick Sang, ex-medalhista olímpico, que viu nele não apenas talento, mas uma disciplina que poucos atletas possuem.
Antes de brilhar nas maratonas, Kipchoge começou sua carreira no atletismo de pista. Em 2003, surpreendeu o mundo ao vencer os 5.000m no Campeonato Mundial, superando lendas como Kenenisa Bekele e Hicham El Guerrouj. Mas foi nas ruas, na resistência interminável dos 42.195 metros, que ele se tornou uma lenda.
O Sonho de Correr Sub-2h
Desde que a maratona moderna foi estabelecida, correr abaixo de 2 horas parecia um feito inatingível. Mas Kipchoge e sua equipe sabiam que, com a combinação certa de treinamento, estratégia e ciência, esse feito poderia se tornar realidade. Em 2017, no projeto Breaking2, patrocinado pela Nike, ele correu em Monza, Itália, e chegou perto: 2h00min25s.
A tentativa serviu como um aprendizado crucial. Pequenos ajustes na estratégia mostraram que a barreira poderia ser quebrada. Assim nasceu o projeto INEOS 1:59 Challenge, onde tudo foi meticulosamente planejado para maximizar sua performance.
A Ciência Por Trás do Feito
O sucesso de Kipchoge não foi apenas resultado de seu talento e dedicação. Ele teve ao seu lado uma equipe multidisciplinar de cientistas e especialistas em performance esportiva. A equipe envolveu fisiologistas, biomecânicos, meteorologistas, nutricionistas e engenheiros, todos trabalhando para criar as condições ideais para o feito.
🔹 Treinamento baseado em evidências – Pesquisadores ajudaram a estruturar a carga de treinos de Kipchoge, focando na distribuição ideal entre esforço e recuperação (Seiler, 2010). 🔹 Nutrição e hidratação otimizadas – A estratégia alimentar foi planejada para garantir o fornecimento adequado de carboidratos durante a corrida, prevenindo quedas no rendimento (Jeukendrup, 2017). 🔹 Aerodinâmica e economia de corrida – O formato dos pacers e a escolha do percurso foram projetados para minimizar resistência ao vento e otimizar o gasto energético (Pugh, 1970). 🔹 Calçado tecnológico – O tênis utilizado possuía placa de carbono para aumentar a eficiência da passada, reduzindo o consumo de oxigênio (Hoogkamer et al., 2018).
O Dia Histórico em Viena
Viena não foi escolhida ao acaso. O percurso no Prater Park foi estudado ao detalhe: terreno plano, poucas curvas, baixa resistência ao vento. O ritmo precisava ser cravado em 2 minutos e 50 segundos por quilômetro.
O evento começou de madrugada. A temperatura estava em torno de 9°C, considerada ideal. Kipchoge, vestido com um tênis protótipo da Nike com placa de carbono, corria cercado por um pelotão de pacers de elite, organizados em formato aerodinâmico para reduzir a resistência do ar.
Cada quilômetro passava como uma coreografia perfeitamente executada. Sua economia de corrida, um dos fatores cruciais para a performance de elite (Santos-Concejero et al., 2014), era evidente: passadas suaves, controle respiratório impecável e um sorriso discreto que transmitia confiança.
Nos últimos metros, o mundo inteiro torcia. Kipchoge acelerou, abriu um sorriso e cruzou a linha de chegada: 1h59min40s. O impossível, desafiado e vencido.
O Que Podemos Aprender Com Kipchoge?
O feito de Kipchoge não foi apenas físico, mas mental. Seu treinamento foi baseado em três pilares fundamentais:
🔹 Treinamento estruturado e progressivo – Estudos indicam que a periodização do treino e a especificidade do estímulo são essenciais para a melhora do desempenho (Seiler, 2010). 🔹 Recuperação inteligente – O equilíbrio entre estímulo e recuperação é um dos segredos para evitar lesões e evoluir de forma sustentável (Kellmann et al., 2018). 🔹 Mentalidade inabalável – O treino mental é tão importante quanto o físico. A confiança e a resiliência de Kipchoge foram treinadas tanto quanto suas pernas (Brick, MacIntyre & Campbell, 2016).
Você Também Pode Usar a Ciência Para Evoluir
Kipchoge teve uma equipe científica para otimizar cada detalhe de sua performance. Mas você, corredor amador, também pode se beneficiar da ciência para treinar melhor e evoluir mais rápido! A aplicação dos princípios corretos pode fazer você ganhar mais resistência, velocidade e eficiência sem precisar aumentar drasticamente seu volume de treino.
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Referências:
Brick, N., MacIntyre, T., & Campbell, M. (2016). Metacognitive processes in the self-regulation of endurance performance. International Review of Sport and Exercise Psychology, 9(1), 1-32.
Hoogkamer, W., Kipp, S., Spiering, B. A., & Kram, R. (2018). Altered running economy directly translates to altered distance-running performance. Medicine & Science in Sports & Exercise, 50(5), 982-988.
Jeukendrup, A. (2017). Training the gut for athletes. Sports Medicine, 47(1), 101-110.
Kellmann, M., Bertollo, M., Bosquet, L., Brink, M., Coutts, A. J., Duffield, R., ... & Meeusen, R. (2018). Recovery and performance in sport: consensus statement. International Journal of Sports Physiology and Performance, 13(2), 240-245.
Pugh, L. G. C. E. (1970). Oxygen intake in track and treadmill running with observations on the effect of air resistance. Journal of Physiology, 207(3), 823-835.
Santos-Concejero, J., et al. (2014). Interaction effects of stride angle and strike pattern on running economy. International Journal of Sports Medicine, 35(12), 1118-1123.
Seiler, S. (2010). What is best practice for training intensity and duration distribution in endurance athletes? International Journal of Sports Physiology and Performance, 5(3), 276-291.