O Corpo Sente o Tempo, o Cérebro Mede a Distância:
O que Isso Significa para Seus Treinos de Corrida?
Já percebeu como um tiro de 1 minuto parece interminável (e 1 minuto de descanso passa “voando”), mas correr 400 metros parece mais "palpável"? Ou como 10 minutos em ritmo forte parecem durar muito mais do que deveriam? Isso não é coisa da sua cabeça (bom, na verdade é!).
O papo de hoje é dar base cientifica para sensações cotidianas de treino.
Estudos científicos mostram que o nosso corpo reage ao tempo, enquanto o cérebro se organiza pela distância. E entender isso pode transformar a forma como você treina.
Vamos explorar isso juntos de forma mais simples que eu conseguir. E no fim, você ainda vai sair com dicas práticas, pelo menos me esforcei para isso!
O Tempo Se Arrasta (E Isso Não é Só Impressão)
Em um estudo com ciclistas, pesquisadores mediram como eles percebiam o tempo enquanto pedalavam forte. Adivinha? Todos relataram que os minutos pareciam durar mais do que o normal! Outros estudos mostram que isso acontece porque o exercício intenso altera nossa percepção temporal. A dor, a fadiga e o foco no desconforto fazem com que o tempo pareça mais longo do que realmente é.
Isso explica por que um tiro de 3 minutos é mentalmente tão desafiador: nosso cérebro não tem uma "referência visual" clara de quando vai acabar. Se você já fez um treino intervalado por tempo e sentiu que estava durando uma eternidade, agora você sabe que é uma reação natural do seu cérebro!
Dica Prática: Quando fizer treinos por tempo, tente focar em pequenos "marcos mentais". Por exemplo, ao invés de pensar "faltam 3 minutos", divida em partes menores: "30 segundos intensos, depois mais 30 segundos". Isso engana o cérebro e torna o tempo mais suportável.
Seu Cérebro Precisa Ver a Linha de Chegada
Agora, quando corremos por distância (tipo 400 metros), o jogo muda. O cérebro usa marcos visuais para ajustar o ritmo. Se você souber que tem que correr 1 km forte, automaticamente seu corpo administra melhor a energia para que você consiga sustentar o esforço até o final.
Isso acontece porque nosso cérebro regula o ritmo baseado na percepção de distância. Em um estudo, corredores que sabiam exatamente a distância da prova demonstraram maior controle do esforço do que aqueles que não sabiam quando a corrida terminaria. Ou seja, quando temos um objetivo claro, o corpo se adapta para não "quebrar" antes da hora.
Dica Prática: Se você acha que cansa rápido demais em provas ou tiros longos, treine a percepção de distância. Experimente fracionar mentalmente o percurso: "vou até aquela árvore, depois até o próximo poste". Isso ajuda o cérebro a se sentir no controle e diminuir a percepção de fadiga.
Tempo ou Distância: Qual o Melhor?
Ambos têm seu valor, e a escolha depende do objetivo:
✅ Treinos por tempo: ótimos para estimular o sistema aeróbio sem ficar obcecado com ritmo. Ajuda na resistência mental e na tolerância ao desconforto. ótimo para quem corre na trilha e não sabe o terreno que vai vir pela frente.
✅ Treinos por distância: ideais para desenvolver pacing (controle do ritmo) e preparar a mente para provas específicas. Perfeito para quem quer otimizar estratégias em corridas mais lineares como corridas de rua.
Particularmente, eu combino os dois mundos em forma de treinamento para os alunos, quero que desenvolvam a percepção de ritmo/esforço independente de tempo/distância!
O Que a Neurociência Diz Sobre Isso?
Nosso cérebro faz de tudo para que a gente não quebre no meio do caminho. Isso é chamado de teleoanticipação: ele regula a percepção de esforço para garantir que você chegue ao final sem "desligar" antes.
Estudos mostram que corredores ajustam automaticamente a intensidade ao longo da prova conforme têm ou não uma referência de chegada. Quando a distância é desconhecida, o corpo tende a economizar energia, pois o cérebro prefere ser conservador. Mas se você sabe exatamente quanto falta, ele permite gastar mais energia no final.
Dica Prática: Se você sente que tem dificuldades em acelerar no final das provas, tente visualizar mentalmente uma chegada clara no treino. Estudos mostram que isso pode ajudar o cérebro a "liberar" mais energia para o sprint final. Pense, planeje e haja “progressivo” sempre vai ser uma boa alternativa para os treinos/provas.
Conclusão: Como Usar Isso Para Correr Melhor
✔ Se o tempo parece passar devagar, divida mentalmente em blocos menores.
✔ Se cansa muito rápido em tiros longos, use referências visuais para enganar o cérebro.
✔ Combine treinos por tempo e por distância para explorar diferentes adaptações. ✔ Treine sua percepção de distância para melhorar o pacing.
✔ Visualize o final da corrida para "enganar" o cérebro e liberar mais energia no sprint final.
Ps: um detalhe final, o corpo sempre vai se adaptar a tempo de esforço. Por mais que nós treinadores, utilizemos a distância como referencial para o seu cérebro entender melhor, o corpo vai responder ao tempo sob intensidade.
Agora que você entende como o tempo e a distância afetam sua corrida, que tal aplicar isso em um treino estruturado e baseado em ciência?
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Referências Científicas
Behm, D.G. & Carter, T. (2020). Effect of Exercise-Related Factors on the Perception of Time. Frontiers in Physiology, 11, 1003.
Edwards, A.M., Walker, S., & Broadbent, S. (2024). The perception of time is slowed in response to exercise, an effect not further compounded by competitors: behavioral implications for exercise and health. Brain and Behavior, 14(4), e3471.
Hanson, N.J. & Buckworth, J. (2016). Sex Differences in Time Perception during Self-Paced Running. International Journal of Exercise Science, 9(3), 514-523.
Coquart, J.B., Lemaître, F., Castagna, O., & Tourny-Chollet, C. (2008). Knowledge of the endpoint: effect on perceptual values during exhausting runs. International Journal of Sports Medicine, 29(12), 976-979.
Ulmer, H.V. (1996). Concept of an extracellular regulation of muscular metabolic rate during heavy exercise. Experientia, 52(5), 416-420.