A diferença entre cruzar a linha forte ou arrastado tem nome: resiliência fisiológica.
Se correr fosse só sobre VO₂máx, limiar e economia, todos que treinam certo estariam voando. Mas… a gente sabe que não é bem assim.
Tem corredor que treina forte, come bem, dorme direito — mas chega no km 30 da prova e começa a desmontar.
Já viu esse filme?
Pois é. A ciência viu também. E agora tem nome, conceito e até protocolo pra isso.
O que é resiliência fisiológica?
Pensa no seu corpo como um carro de corrida.
VO₂máx é o tamanho do motor.
Economia de corrida é o consumo por quilômetro.
Limiar de esforço é a rotação máxima antes de fundir o motor.
Beleza. Mas nada disso adianta se, depois de uma hora de prova, seu motor começa a ferver, os pneus furam e o volante fica torto.
Aí entra a tal resiliência fisiológica.
Resiliência é a capacidade de manter a performance, mesmo sob estresse, fadiga ou desgaste físico. Em bom português: é o quanto você aguenta correr bem quando o corpo já tá pedindo arrego.
O conceito ficou famoso depois do projeto Breaking2, da Nike, que queria colocar um ser humano abaixo das 2h na maratona. Entre os 3 corredores escolhidos, só um conseguiu chegar perto — e depois, passou: Eliud Kipchoge.
O que os cientistas viram?
Que Kipchoge não era o que tinha o maior VO₂máx. Nem o mais econômico. Mas era o único que conseguia manter esses índices mesmo com o passar dos quilômetros. Os outros... começaram a desabar. Mesmo treinados.
A tal “resiliência” virou então o quarto pilar do desempenho em provas longas, ao lado dos já conhecidos:
VO₂máx
Economia de movimento
Limiar de esforço
E agora...
Resiliência fisiológica
Por que ela faz tanta diferença?
Porque correr é um esporte que cobra consistência, não só potência.
Seu VO₂máx no começo da prova pode ser excelente. Mas e no final?
Seu limiar era 90% no aquecimento... mas e depois de 2h subindo e descendo trilha?
Sua mecânica era eficiente no início... mas e quando a fadiga travou o quadril?
A resiliência responde isso. E mais: ela explica por que a quebra não é falta de treino. É falta do tipo certo de treino.
Como treinar resiliência fisiológica?
A boa notícia: ela é treinável.
A má: não se treina em um mês. Resiliência é uma construção. Tijolinho por tijolinho. Mas tem estratégias claras pra acelerar esse processo:
1. Consistência e volume ao longo dos anos
Não tem atalho. Quem treina mais tempo, com mais constância, tende a ser mais resiliente. A resiliência se constrói na regularidade.
2. Longões com intensidade progressiva
Um treino poderoso: 2h de corrida, sendo os últimos 30 minutos em ritmo de prova. Isso obriga o corpo a manter a eficiência mesmo com a fadiga batendo.
3. Tiros em estado de fadiga
Finalize um treino de base com tiros curtos e fortes. Ensina o corpo a recrutar fibras rápidas quando as lentas já estão pedindo socorro.
4. Treino de força e pliometria
Pernas fortes não cansam fácil. E o principal: mantêm a técnica de corrida intacta, mesmo no fim da prova. Isso economiza energia e reduz o risco de “quebrar”.
5. Simulações de prova
Treinar em condições parecidas com a competição aumenta a tolerância ao desconforto e melhora o controle mental em ambientes hostis. Sabe aquele treino com mochila, subidas intermináveis e clima seco? Então... ele é um construtor de resiliência.
O que a ciência diz
O artigo de Andrew M. Jones e Brett S. Kirby, publicado em 2025 no Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports, faz um apanhado brilhante sobre o tema.
Eles mostram que:
Resiliência tem variação entre indivíduos, mesmo com VO₂máx e economia semelhantes.
Os mais resilientes têm menor deterioração de parâmetros como VO₂, economia e limiar ao longo do tempo.
Treinos específicos (longos, progressivos, em fadiga e com força) aumentam essa capacidade.
Ou seja: você pode e deve treinar isso.
E agora, corredor... me diz:
Você quer só correr bem no começo, ou quer chegar inteiro e sorrindo na linha de chegada?
Porque performance mesmo... é manter a eficiência quando a perna já não quer mais…
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Porque quanto mais você entende, melhor você treina. E mais rápido você evolui.
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Referência científica:
Jones, A. M., & Kirby, B. S. (2025). Physiological Resilience: What Is It and How Might It Be Trained? Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports, 35:e70032.
Agora me conta aí nos comentários:
Qual foi a prova ou treino que mais te ensinou sobre resiliência?
Sensacional