"Você tem que respirar só pelo nariz!" Quem corre já ouviu esse conselho ao menos uma vez. Mas será que faz sentido na prática? Ou será apenas mais um daqueles modismos que surgem na corrida de tempos em tempos?
Deixe-me contar uma história antes de tudo:
Eu tenho lido alguns livros sobre respiração e estudado cada vez mais essa parte “elementar” da sobrevivência humana… Abaixo compartilharei um pouco do que tenho estudado, pensado e aplicado no momento.
O que a ciência diz sobre a respiração nasal?
A respiração, em termos fisiológicos, é como uma cadeia logística eficiente: precisamos captar oxigênio e liberar gás carbônico rapidamente. Essa troca acontece nos pulmões, onde pequenos sacos chamados alvéolos transferem oxigênio para o sangue e retiram o CO₂.
Em ritmos leves (até cerca de 75-80% do seu VO₂máx), respirar pelo nariz funciona perfeitamente bem. Inclusive, pode ajudar você a relaxar, ativando o sistema nervoso parassimpático (aquele que nos acalma). A respiração nasal pode ser utilizada como um ótimo indicador natural para manter o ritmo certo: se você precisar abrir a boca, provavelmente está indo rápido demais para um treino regenerativo ou leve.
Porém, em intensidades mais altas, a história muda drasticamente. A respiração exclusivamente nasal restringe o volume e a rapidez com que o ar entra e sai dos pulmões. Isso gera uma sensação chamada "fome de ar", onde o atleta sente literalmente que está sufocando. O cérebro interpreta isso como um sinal de alerta extremo, aumentando a percepção de fadiga.
Em outras palavras: em alta intensidade, a respiração nasal não melhora a performance, pelo contrário, ela pode prejudicar significativamente.
Então, vale a pena treinar a respiração nasal?
Para performance em alta intensidade, a resposta direta é: não vale a pena. Não há comprovação científica sólida de que respirar pelo nariz melhore o desempenho em provas ou treinos intensos. Mas não descarte completamente essa técnica.
O lado bom da respiração nasal (e uma dica prática!)
Utilizar a respiração nasal é excelente para:
Treinos leves e regenerativos: ajuda a controlar o ritmo e garante uma intensidade baixa.
Relaxamento e recuperação pós-treino: reduz o estresse e facilita a recuperação.
Dica prática: Utilize a respiração nasal como um limitador natural para seus treinos leves. Se você começar a sentir necessidade de abrir a boca para respirar, provavelmente está aumentando o ritmo acima do necessário para aquele dia.
O segredo está no equilíbrio
Para melhorar a performance real, principalmente em provas intensas, invista no treinamento específico dos músculos respiratórios. Esses músculos são responsáveis por 15-16% do consumo total de oxigênio em esforços muito altos. Treiná-los aumenta sua resistência e eficiência, diminuindo a fadiga respiratória e economizando energia que pode ser direcionada para os músculos das pernas.
A moral da história
Não existe uma técnica única e milagrosa. O corpo humano é um sistema complexo que precisa de equilíbrio, estratégia e principalmente, bom senso.
Respirar pelo nariz não é ruim, mas tampouco é a solução mágica. A respiração eficiente, assim como a corrida, é uma habilidade que você desenvolve com treinamento específico, consciência corporal e, claro, entendendo o que a ciência realmente diz.
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Referências científicas:
Harms et al. (1998). Respiratory muscle work compromises leg blood flow during maximal exercise. Journal of Applied Physiology, 85(2), 609-618.