Imagine-se há 50 mil anos. Você é um caçador nômade, atravessando montanhas em busca de alimento. Suas pernas são fortes, sua resistência é inigualável, mas seu verdadeiro diferencial evolutivo é o polegar opositor. Com ele, você pode segurar ferramentas, usar lanças para caçar e, sem saber, revolucionar a locomoção humana (Para quem gosta desse assunto, leia o livro Sapiens).
Agora, traga essa analogia para o presente. Nós, Corredores de trilha/montanha enfrentamos desafios parecidos. O terreno é instável, as subidas exigem força e resistência, e as descidas destroem músculos. E se pudéssemos usar uma ferramenta que redistribuísse o esforço, reduzisse o impacto e ajudasse na eficiência?
Aqui entram os bastões ou trekking poles. Mas será que eles realmente ajudam? Ou são apenas um peso extra? Vamos deixar a opinião de lado e ver o que a ciência tem a dizer.
O que acontece com o corpo quando usamos bastões?
Em um estudo publicado no European Journal of Sport Science, analisou corredores experientes para entender como os bastões influenciam a biomecânica. Os pesquisadores avaliaram as forças de impacto, a redistribuição muscular e as mudanças na técnica de corrida em diferentes terrenos (subidas, descidas e planos).
Os resultados foram claros:
📉 Redução do impacto sobre as articulações:
Em terrenos planos, a força no antepé diminuiu 12,6%.
Em descidas, a carga no calcanhar foi 14,2% menor.
O tempo de aplicação da força no solo foi reduzido em 13,5%.
🦵 Redistribuição do esforço muscular:
O estudo mostrou que os bastões aumentam a ativação da parte superior do corpo.
Menos sobrecarga nas pernas, especialmente nas descidas, o que pode ajudar a evitar lesões.
🏃♂️ Mudança na biomecânica da passada:
Com os bastões, os corredores alteram o posicionamento do corpo e a força de impacto, o que pode influenciar a eficiência ao longo da prova.
Como isso se traduz para a prática?
Se você já correu uma prova longa com muito desnível, sabe que o verdadeiro desafio não está apenas nas subidas, mas nas descidas. Eu sei que estamos acostumados a utilizar “somente” nas subidas, mas esse estudo mostrou que quando as pernas estão exaustas e o quadríceps começa a queimar, é aí que os bastões podem fazer diferença.
Já tinha lido algo do gênero? Pois é… Quem tem mais “horas de vôo” com os bastões e acaba utilizando em todas as sessões da proa, ve bastante utilidade nessas sessões de downhill (a começar por mim).
”Fetter então nas subidas o bastão é ruim?” Calma, jovem…Normalmente, utilizamos os bastões caminhando…o estudo testou correndo…Ou seja, são coisas diferentes, precisamos, sim, buscar a ciência, mas saber entender os estudos é parte fundamental para que apliquemos na pratica. E, na caminhada ele ajuda demais. Mas vamos explorar isso em outras oportunidades….
Em resumo:
✔️ Menos impacto significa menos microlesões musculares.
✔️ Descidas mais controladas reduzem o risco de quedas e lesões.
✔️ A redistribuição do esforço pode prolongar sua resistência ao longo da prova.
Mas tem um detalhe: se usados de forma errada, os bastões podem se tornar um peso extra e até atrapalhar sua corrida. Técnica e treino são fundamentais.
💡 No próximo texto, vamos explorar se os bastões realmente ajudam a retardar a fadiga muscular. Será que eles podem te fazer correr por mais tempo?
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🔗 Referência: Daviaux, Y., Hintzy, F., Samozino, P., & Horvais, N. (2013). Effect of using poles on foot-ground kinetics during stance phase in trail running. European Journal of Sport Science, 13(5), 521-529.
Não consigo imaginar como utilizar os bastões em descida! Estou só pelos próximos capítulos kkkk