Sabe aquele dia que você sai de casa cedo, leva um banho de chuva, enfrenta o trânsito infernal, chega no trabalho exausto e ainda tem que sorrir pro chefe? Pois é, ultramaratonistas passam por isso, mas sem a cafeteira do escritório pra salvar.
Recentemente, um estudo publicado no The Physician and Sportsmedicine (2025) jogou uma bomba no mundo do trail running: as doenças são mais comuns do que as lesões em ultramaratonas de montanha. Isso mesmo, você pode estar mais perto de abandonar uma prova por uma diarreia inesperada do que por um tornozelo torcido.
O QUE ROLOU NESSE ESTUDO?
Os pesquisadores acompanharam 285 corredores em uma ultra na África do Sul (38 km, 65 km e 100 km). Todo mundo que sofreu algum problema médico durante a prova foi analisado. Resultado? 31,2% dos participantes tiveram um “encontro médico” — ou seja, precisaram de ajuda para continuar (ou desistir) da prova.
14,7% tiveram lesões (membros inferiores dominando: pé, tornozelo, joelho).
22,5% tiveram algum problema de saúde (desidratação, fadiga, enjoos, diarreia...).
Entre os que tiveram problemas, 40,4% desistiram da prova.
Nos 100 km, 31,5% relataram desidratação e 61,9% dos que sentiram fadiga abandonaram a prova.
A pesquisa também detalhou quais foram as principais lesões registradas: 42,8% foram ferimentos na pele (como bolhas), 14,3% foram lesões ligamentares e 14,3% foram lesões musculares. Já entre as doenças, os maiores problemas estavam ligados ao sistema digestivo e à desidratação extrema.
Outra descoberta interessante: dois em cada cinco corredores que tiveram algum problema médico não conseguiram completar a prova. Ou seja, se você for um desses 40,4%, sua corrida termina antes da linha de chegada.
POR QUE ISSO ACONTECE?
A mistura de fatores como altitude, desidratação, fadiga acumulada e falta de preparo adequado coloca os atletas em risco durante provas longas. Nos 100 km, por exemplo, um número significativo de corredores enfrentou problemas gastrointestinais severos, o que pode estar relacionado tanto à nutrição quanto ao esforço excessivo.
Além disso, a questão mental também pesa. A fadiga extrema não afeta apenas os músculos, mas também a capacidade de decisão. Muitos atletas acabam desistindo porque simplesmente não conseguem continuar. A adaptação ao esforço prolongado e o entendimento do próprio corpo são fundamentais para evitar que isso aconteça.
COMO USAR ESSA INFO NO SEU TREINO?
Vamos direto ao ponto. Se você quer melhorar seu desempenho (e terminar a prova sem drama), precisa:
Treinar hidratação e nutrição – Comer e beber certo é um treino tão importante quanto os tiros na subida.
Treinar resistência mental – Se você já abandonou um quebra-cabeça só porque não achava a peça certa, imagina no km 80 de uma ultra sem forças para continuar.
Testar tudo antes da prova – Seu gel pode funcionar no treino de 10 km, mas e depois de 6 horas correndo?
Entender seu corpo – Você só melhora sua performance quando sabe como ele reage aos diferentes tipos de estímulo.
SE VOCÊ SÓ “SAI PRA CORRER”, ESTÁ PERDENDO A OPORTUNIDADE DE EVOLUIR
A verdade é que quem aprende mais sobre treinamento, treina de forma mais inteligente. E quem treina de forma mais inteligente, evolui mais rápido.
Se você quer entender como usar a fisiologia ao seu favor, estruturar seu treino da forma correta e evitar cair nos mesmos erros que fazem muita gente quebrar na ultra, então você precisa conhecer meu curso Fisiologia e Treinamento para Corredores Amadores.
REFERÊNCIAS:
Boshielo, P. M., Jansen van Rensburg, A., Viljoen, C., Botha, T., de Villiers, C. E., Ramagole, D., Seyani, L., & Janse van Rensburg, D. C. (2025). Illness is more prevalent than injury in trail runners participating in a mountainous ultra trail race. The Physician and Sportsmedicine, 53(1), 27-35. DOI: 10.1080/00913847.2024.2367401.
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